Ligamento cruzado posterior
O Ligamento cruzado posterior (LCP) é o principal responsável pela estabilidade posterior do joelho. Ele tem sua origem na região lateral do côndilo femoral medial e sua inserção na região posterior da tíbia. O LCP é considerado o pivot central do joelho.
A lesão do LCP é menos frequente do que os outros ligamento do joelho (LCA, LCM e LCL). Geralmente a lesão do LCP é decorrente de um trauma de grande energia, acidentes automobilísticos, entorses graves e quedas de grandes alturas.
O mecanismo de lesão mais comum é o trauma direto na região anterior da tíbia com o joelho flexionado a 90°(trauma do painel), pode ocorrer devido a um trauma indireto, entorse grave, geralmente em hiperextensão do joelho, situação onde o LCA também pode romper, e entorses graves associado a trauma direto no joelho, nessas condições lesões a probabilidade de uma lesão multi-ligamentar é grande.
O quadro clinico inicial é muito semelhante as outras lesões ligamentares do joelho e a intensidade do quadro vai depender da gravidade das lesões associadas. Após a fase aguda, 1 a 2 semanas, a dor e o edema no joelho diminui. A instabilidade vai depender das lesões associadas, na lesão isolada do LCP as queixas de instabilidades não são muito comuns, geralmente ocorre na lesão grau 3 durante a pratica de atividades físicas, principalmente naquelas com parada brusca, saltos e movimentos de hiperextensão do joelho.
Diagnostico
O diagnostico da lesão do LCP é clinico. O exame físico é esclarecedor nas lesões isoladas o paciente vai apresentar poucos sintomas e um exame físico compatível com instabilidade posterior do joelho (testes de Lachmanm posterior, gaveta posterior, sag test e Godfrey) é suficiente para realizar o diagnóstico. É muito importante a avaliação de possíveis lesões associadas que são comuns.
O exame mais indicado para confirmar o diagnóstico é a ressonância magnética do joelho sem necessidade de contraste. Que também ira mostrar se existem lesões associadas ou não.
Tratamento
O tratamento da lesão do LCP depende muito do perfil do paciente, da expectativa de retorno ao esporte, dos sintomas durante as atividades de vida diária e atividades fisicas. O tratamento pode ser cirúrgico (reconstrução do LCP) ou não cirúrgico (fisioterapia, fortalecimento e mudança de hábitos de vida).
O tratamento cirúrgico deve ser empregado em pacientes com lesão grau 3 isolada sintomática e pacientes com lesões associadas onde a reconstrução do LCP é primordial para reconstituir a estabilidade do pivot central do joelho.
O tratamento não cirúrgico, geralmente, é empregado em pacientes com lesão grau 1 ou 2 isoladas do LCP, paciente de baixa demanda (pacientes sedentários) para os joelhos, pacientes sem queixa de instabilidade e artrose avançada, independente da idade do paciente.
Reconstrução do LCP
O tratamento cirúrgico mais indicado para a lesão do LCP é a reconstrução do ligamento , pois o tecido remanescente após a lesão , geralmente, perde sua função e não apresenta condições de ser reparado (suturado). Para realizar a reconstrução do LCP é necessário o uso de enxerto.
Tipos de enxerto
Os enxertos para reconstrução ligamentar podem ser autólogos (do próprio paciente) ou heterologos (enxerto de cadáver), este ultimo tipo é pouco utilizado em nosso país devido aos poucos serviços credenciados para processar esse tipo de enxerto.
O enxerto autólogo tem a vantagem de ser biologicamente compatível e ter maior força de tensão por se tratar de um tecido que não foi processado qimica e fisicamente. Porem tem a desvantagem da morbidade do local doador
- Tendão quadriceps
Para esse tipo de enxerto utilizamos o terço central do tendão quadriceps, juntamente com um plug ósseo da patela através de uma incisão de 10 cm na região anterior do joelho proximal a patela, é o enxerto comumente utilizado, pois tem um boa espessura (10 -12 mm) e é um enxerto longo, o que facilita a sua fixação durante o processo cirúrgico. Outras vantagens são o plug ósseo que apresenta um integração mais rápida uma ótima força de tensão, é menos elatico que os tendões flexores, oque pode levar à um menor “afrouxamento” do enxerto. A desvantagem é a maior morbidade do sitio doador, com uma recuperação mais dolorosa e um pouco mais demorada uma maior incisão e o risco de complicações mais sérias (fratura da patela), quando comparado aos tendões flexores.
- Tendão patelar
Para esse tipo de enxerto utilizamos o terço central do tendão patelar, juntamente com um plug ósseo da patela e da tíbia através de uma incisão de 10 cm na região anterior do joelho. É um enxerto pouco utilizado nas reconstruções do LCP por se tratar de um enxerto curto, o que limita os métodos de fixação aos parafusos tipo poste e a presença de 2 plugs osseos também dificulta a passagem do enxerto. Porem é a primeira escolha de enxerto nos casos da técnica in lay. Apresnta as mesmas vantagens e desvantagens do enxerto de quadríceps citado acima.
- Tendoes flexores (grácil e semitendineo)
Para esse tipo de enxerto utilizamos os tendões do musculo grácil e semitendineo, que são retirados através de uma pequena incisão(3-5cm)na região anteromedial do joelho. É o tipo de enxerto com maior força de tensão e com menor morbidade do local doador. A desvantagem desse tipo de enxerto é que em alguns casos ele pode ser fino (<7mm) o que pode comprometer sua forca de tensão final, sendo necessário, muitas vezes utilizar os tendões flexores de ambas as perna para ter um enxerto de espessura adequada (pelo menos 10 mm) e seu maior tempo de integração quando comparado ao tendão patelar e quadriceps. Os tendões flexores são estabilizadores secundários da estabilidade em valgo do joelho, então pacientes com lesão do lcm e/ou atividades que requerem uma estabilidade em valgo maior, podem se beneficiar do uso de outro tipo de enxerto.
Cirurgia de reconstrução do LCP
Para a reconstrução do LCP costuma-se utilizar a técnica artroscópica (por vídeo dentro do joelho) do joelho. Existem vários métodos de fixação do enxerto, varias técnicas de confecção dos tuneis femoral e tibial.
De modo geral, a cirurgia se inicia pela realização dos portais anteriores artroscopicos do joelho a ser operado, é realizada a inspeção articular que ira confirmar a lesão do LCP e possíveis lesões associadas (lesão condral , meniscos, etc…). Procede-se então para a retirada do enxerto, conforme programação pre-operatória). Através de guias específicos são confeccionados os tuneis femoral e tibial de modo artroscópico.
Após o tratamento de todas as lesões associadas o enxerto é passado através dos tuneis e fixado de acordo com o enxerto e material disponível, geralmente parafuso de interferência na tibia e no fêmur, parafuso de interferência e poste ou parafuso de interferência e um dispositivo de fixação cortical
Reabilitação
Geralmente o paciente opera em um dia e tem alta no dia seguinte, para melhor controle álgico, o paciente pode dar carga parcial progressiva no membro operado já no dia seguinte da cirurgia, com o uso de muletas por 6 semanas para evitar a sobrecarga, edema e dor, oque retardaria a recuperação pos operatória, além do uso de um brace longo do joelho com anteriorização da tibia para evitar o afrouxamento do enxerto..
Após 2 semanas se da inicio na fisioterapia, que será voltada para ganho força de quadríceps e inicio do arco de movimento do joelho nas primeiras 6 semanas, após isso inicia-se o tratamento voltado para o gando de movimento final do joelho e fortalecimento progressivo de quadriceps
Após 3 meses de pós operatório o paciente é liberado para atividades de baixo impacto(natação, hidroginástica, bicicleta) e sem movimentos de rotação do joelho, mudança de direção , parada brusca ou saltos. Pode iniciar um fortalecimento na academia, evitando exercícios de cadeia cinética aberta com carga excessiva.
Geralmente com 4 a 6 meses de pos operatório, dependendo da reabilitação muscular do paciente, inicia-se as atividades de impacto no joelho de maneira progressiva, iniciando com uma caminhada na esteira, seguido de caminhada intercalado com corrida até o paciente conseguir retornar aos treinos de corrida ainda na esteira, após uma reabilitação completa da musculatura o paciente está apto a realizar corrida na rua.
Esportes com movimentos de rotação, saltos e mudança de direção (futebol, basquete, handbol, vôlei, rugby, etc..) geralmente são possíveis após 9 meses a 1 ano de pos operatório, dependendo da reabilitação muscular e proprioceptivo do joelho.